Ao longo da minha vida tive várias experiências importantes, muitas desafiadoras, outras nem tanto. Mas certamente uma delas foi passar por um curso superior. Iniciei minha vida profissional e permaneci na atividade operacional por seis anos sem sentir a necessidade de investir na minha formação. Estava entrando inconscientemente numa zona de conforto que por certo me remeteria a condição de um profissional medíocre e impotente diante das grandes transformações ocorridas nas últimas décadas. Quando percebi a necessidade de ampliar os horizontes de atuação profissional, já havia passado três anos da conclusão do ensino médio.
Hoje, vendo alunos que concluem o ensino médio com 16 anos, tenho algumas preocupações e certamente um grande desafio como docente. Talvez a profissão que mais sofre com as pressões sociais seja a atividade docente, especialmente a do ensino superior. Como docentes, temos que ter a clara noção de que, a cada ano, nos tornamos mais velhos em relação aos nossos alunos. Mas só isso não é suficientemente motivador para repensarmos nossas ações num ambiente tão mutante em que o ato de ensinar está inserido.
Hoje, mais do que nunca, a formação superior representa a autonomia, o caminho que pretendemos seguir enquanto cidadãos.
A profissão que nossos alunos escolhem para esse vôo muitas vezes turbulento é feita muito cedo. Além disso, nunca tivemos tantas opções de escolha para o que queremos ser no futuro. Temos, portanto, que fazer escolhas importantes ao longo da nossa vida. Uma delas é administrar a nós próprios. Essa mudança é maior do que a trazida por qualquer tecnologia. Por isso, clareza, concepção clara, caráter, persistência, ousadia, devem ser palavras repetidas e praticadas todos os dias nas nossas aulas. Por tudo isso, e por entender que a atividade docente é o motor de partida dessa locomotiva chamada atividade profissional, acredito ser necessário que tenhamos a clareza desse papel tão importante na vida dos nossos alunos. Temos que nos transformar em mediadores das ações dos alunos como profissionais no mundo real.
Um curso superior é um grande laboratório, é o simulador de vôo para esse mundo. O sucesso nessa trajetória é decorrente dos ensaios e do tempo que nos dedicamos no espaço de aprendizagem.
Não é mais usual na vida profissional acreditarmos na sorte. Para mim, sorte deve ser comemorada como um troféu quando o evento ocorrer, mas não deve ser encarada como única alternativa para ter sucesso na vida. Sucesso é, portanto, a soma das oportunidades ao longo da vida, mais a preparação que tivermos ao longo dela. É a verdadeira passagem da velha economia de commodities para a era do capital intelectual e das competências. Então, você pode espantar os corvos ou drenar o pântano, mas terá que fazer isso com muita competência e acreditar, sobretudo, que a mudança é inexorável.