Depois de cada copa do mundo de
futebol, as reflexões sobre as lições que ela deixa são inúmeras e esse talvez
seja o maior legado do evento para as organizações de trabalho.
A minha reflexão é especialmente
sobre a seleção da Alemanha, campeã dentro e fora do campo. Em 2000, depois da
fraca atuação na Eurocopa, os Alemães iniciaram um processo de planejamento de
longo prazo para voltar a ganhar títulos. Decidiram reformular o grupo desde a
base até o alto escalão e investiram fortemente em pesquisas científicas para
pautar as mudanças. Foram 14 anos de avanços para chegar a conquista desse
título mundial. Parece muito tempo investido para a obtenção de um resultado,
mas o caminho de agora em diante será menos tortuoso e certamente muitas
conquistas virão a partir dessa nova fase.
Por outro lado, A Seleção
Brasileira mostrou uma realidade que representa boa parcela das organizações de
trabalho. Quero destacar apenas duas para a nossa reflexão.
A primeira é a falta de planejamento.
Não é mais admissível que empresas queiram crescer com sustentação abrindo mão
de um planejamento estratégico. O Brasil é um dos países onde menos se planeja
estrategicamente. A consequência disso é a sensação de insegurança para
investir em novos mercados ou abandonar velhos hábitos e estilos ultrapassados
de gestão. O grande “apagão” de mão de obra, tão comentado por analistas de
gestão, aliado a falta de uma filosofia de ação pautada na ciência e controlada
por ferramentas modernas de gestão, acaba naquilo que vimos na nossa seleção.
O segundo fator é o trabalho em
equipe. O time da Alemanha não jogava tendo como base um jogador mais
talentoso. Ela tinha uma equipe talentosa, uma equipe que sabia que a equipe é
maior do que um indivíduo isoladamente e que os resultados viriam por conta da
aplicação do que havia sido planejado e trabalhado exaustivamente. Certamente
sabiam também que fora de campo muitas mentes brilhantes haviam pensado e
apostado no projeto. O resultado obtido dentro do campo foi apenas a ponta do iceberg. O que está submerso são os
grandes pilares de sustentação, o verdadeiro alicerce que transformou uma equipe
razoável em uma equipe de alto desempenho. Em uma organização, quando falamos
em equipe, normalmente nos reportamos a elas de maneira isolada e esse é o
grande erro. Como brasileiros, vimos apenas a lista dos 23 jogadores não houve
planejamento, faltou estratégia e sobrou “oba-oba” e a consequência foi o apego
a velhos paradigmas e na hora de corrigir, fizeram por tentativa e erro. Por esse
caminho não dá para corrigir nada no curto prazo. É uma visão que não
ultrapassa a linha do indivíduo como protagonista do espetáculo. Uma organização,
seja de qual for a sua natureza, não pode ser refém de um talento, mas deve
construir uma equipe em torno dele de maneira que ele seja um membro como os
demais e que vai fazer a sua parte da melhor forma possível para alcançar o
resultado coletivo.
Uma boa equipe também deve
mesclar juventude e experiência, fator pouco explorado na nossa seleção. O
ponto de equilíbrio nos momentos difíceis vem sempre de quem tem mais
experiência. A força e a vontade de vencer são os ingredientes para atingir os
resultados, mas a perseverança e a razão não devem ser excluídas do processo.
Precisamos vislumbrar possibilidades quando ocorre um choque de gerações no
ambiente de trabalho e não ver apenas um problema a ser resolvido.
Nessa copa, os especialistas
foram unânimes em afirmar que o futebol arte está em decadência e cedendo lugar
ao futebol planejado, sistêmico e que produz resultado no médio e longo prazo. A
lição desse novo modelo deve ser assimilada pelas organizações. Elas precisam investir
em pessoas, formar equipes de alto desempenho e investir em modernos modelos de
gestão. A era do improviso acabou há muito tempo, mas há ainda uma grande parte
delas gastando muita energia para sobreviver e quase nada de inspiração para
prosperar e crescer.